O
historiador do Museu Casa Histórica de Alcântara representou o MCHA no Simpósio
Internacional de História Pública, realizado na Universidade de São Paulo entre
os dias 16 e 20 de julho de 2012. Ele apresentou a comunicação oral intitulada O Historiador e os Museus, cujo texto
completo será posteriormente publicado nos anais do evento.
Os
profissionais e acadêmicos reunidos no Simpósio Internacional de História
Pública levaram a cabo discussões a respeito de temas que povoam o cotidiano
profissional dos historiadores envolvidos com a tarefa de traduzir suas
concepções e seus métodos para o público não-iniciado. Nesse sentido, o
encontro foi marcado por discussões pragmáticas, pela busca de respostas a
questionamentos diretos e incisivos que se colocam diariamente ao historiador
público (algo que foi estimulado pela própria forma de organizar os debates,
onde os convidados eram instados a responder perguntas objetivas como “qual o
papel da história diante da demanda pública por memória?”, ou “qual o papel do
intelectual público?”, entre outras).
Ficou
claro no encontro que há uma forte demanda pública por história, fenômeno que,
ao abrir espaços de atuação para o historiador fora das academias, coloca
diante dele questionamentos complexos a respeito de seu posicionamento
profissional, técnico e ético.
O
mercado midiático (consubstanciado pela internet, pela televisão, pelo setor editorial)
abre-se para a história, por meio de sites,
documentários, filmes e seriados, revistas especializadas e livros voltados
para o grande público. Nesse campo, pressões mercadológicas tendem a se colocar
acima das preocupações metodológicas que caracterizam a história acadêmica, o
que exige do historiador pulso firme para resistir às tendências de banalização,
simplificação, formação de um pastiche
historiográfico, como ressaltou o historiador Maurício Parada. Por outro lado,
a inserção do historiador profissional na mídia de massa exige que se encontre
um “tom” equilibrado em seus discursos, especialmente nos textos, que devem
fugir da aridez das redações acadêmicas, sem entregar-se ao simplismo do texto
puramente jornalístico. A necessidade da busca desse difícil equilíbrio foi
ressaltada pelo historiador/jornalista Bruno Fiuza, editor da revista História Viva[1].
A
história que se faz pública em órgãos de patrimônio foi objeto de discussões
instigantes em vários momentos do encontro. Ulpiano Toledo Bezerra de Meneses
chamou atenção para a necessidade de se observar e praticar efetivamente as
modificações conceituais a respeito do patrimônio histórico presentes na Constituição
de 1988, que tirou das mãos do Estado a responsabilidade de decidir o que deve
ser elevado à condição de patrimônio, colocando essa tarefa nas mãos dos
membros da sociedade. Nesse sentido, sugeriu a prática de uma “história
popular”, definindo-a como a eleição de objetos de memória e patrimônio pelos
próprios atores sociais envolvidos no contexto histórico em análise, atividade
a ser mediada pelo historiador profissional. No mesmo sentido, José Newton
Coelho de Meneses, partindo de suas experiências como historiador profissional
amparando atividades de órgãos de patrimônio de Minas Gerais, ressaltou as
intrincadas relações políticas e as intencionalidades implícitas nas ações de
agenciamento de patrimônio. Demonstrou o papel do historiador em detectar e
levar à discussão pública essas intencionalidades, e também defendeu a
valorização das concepções dos atores sociais não-governamentais nas atividades
de gestão de patrimônio, especialmente aqueles envolvidos diretamente com o
objeto a ser eleito patrimônio.
No
que se refere à relação entre história e museus as discussões foram igualmente profícuas.
Os profissionais de história envolvidos com museus trouxeram à discussão
problemas comuns, como a “espetacularização” dos museus, que se voltam
excessivamente à função expositiva, buscando a multiplicação do público
visitante por meio de eventos sensacionalistas, relegando as atividades
técnicas, educativas e, especialmente, de pesquisa e produção de conhecimento,
a um preocupante ocaso. O cuidado com as
narrativas dos museus, a análise dos discursos emanados dessas instituições e o
diálogo que eles desenvolvem com as comunidades circundantes foram outro foco
de discussões.
O
Simpósio reuniu historiadores que se encontram em posições profissionais
singulares, que adentram espaços novos, desafiados por questões de ordem
prática, confrontados por concepções históricas cristalizadas pelo senso comum,
por histórias idealizadas ou mitificadas, carregadas de intencionalidades pouco
discutidas. Alguns estão posicionados na confluência com os poderes
instituídos, responsáveis por direcionar práticas oficiais que se justificam e
se amparam em interpretações do passado das sociedades. O Simpósio reuniu e disseminou
experiências e reflexões, contribuindo para o desenvolvimento pessoal e
profissional dos participantes.
[1] A
preocupação com o desenvolvimento de uma linguagem textual mais adequada ao
público não-acadêmico por parte dos historiadores envolvidos com história
pública configurou-se numa questão recorrente, aparecendo nas falas de diversos
palestrantes e convidados ao longo do encontro.
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