sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Interiores no Brasil Colonial


IMAGEM 1. Jean Baptiste Debret - "Família Pobre em Casa". A viúva desvalida, sua filha e a única escrava velha que restou da ruína da família, encontram-se num interior modesto. Esteiras e redes são os únicos móveis de descanso a vista. A gelosia em frangalhos tenta garantir alguma privacidade. No segundo plano a cozinha, com as "três pedras que servem de fogão".

 É evidente que os padrões de moradia variavam de acordo com o estrato social do residente. Ainda que no começo da colonização as casa fossem indistintamente marcadas pela rusticidade e pela falta de elementos, o tempo – trazendo abundância de recursos econômicos aos senhores e qualificados artesãos para executar obras mais rebuscadas - se encarregou de fazer emergir a diferença. Aos casarões abastados, luxuosos e pejados de mobília, se contrapunham as moradas pobres, “choupanas de paus toscos e palhas de pindoba, mobiliadas com duas ou três esteiras, mesa e três pedras servindo de fogão”, conforme anotou Luis dos Santos Vilhena. É quase esse o cenário que aparece na pintura de Debret "Família pobre em casa" (Imagem 1). Outro relato, do francês Tollenaire, dá conta do interior de mais uma habitação desafortunada: “uma esteira, uma cuia ou cabaça e às vezes alguns potes de barro e andrajos, eis toda a mobília do lar de um casal negro”. A ilustração de Joaquim Cândido Guillobel  (Imagem 2) confere mais propriedade à essa citação.

Imagem 2 - J.C. Guillobel - "Interior de uma casa do baixo povo" (1820) A cobertura de pindoba, o chão de terra batida, o recipiente para água com as cuias, as redes, elementos que aproximam esta ilustração do relato de Tollenare. A diferença está no baú, móvel muito comum de acordo com estudos sobre mobiliário no Brasil colonial.

Referências Bibliográficas


ALGRANTI, Leila Mezan. Famílias e Vida Doméstica. In: SOUZA, Laura de Melo e (Org.) História da Vida Privada no Brasil - vol 1. São Paulo: Companhia das Letras, 1997. pp. 83-154
Fonte das imagens:
PINHEIRO, Liliana. O Olhar dos Viajantes: o Brasil e sua gente. São Paulo: Duetto, 2010. p. 68 (imagem 2)
STRAUMANN, Patrick (Org.). Rio de Janeiro, cidade mestiça: nascimento da imagem de uma nação. São Paulo: Companhia das Letras, 2001. p. 33 (imagem 1)
 Texto e pesquisa: Daniel Rincon Caires


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