quarta-feira, 4 de maio de 2011

Consumo de água gaseificada

Appareil lhote, porcelana, século XIX
No tradicional Almanaque Laemmert, edição publicada no Rio de Janeiro em 1888, um anúncio gabava as pretensas propriedades medicinais da chamada água de Selters:
"Laemmert & C. são os únicos importadores em diretura do estabelecimento thermal do governo real da Prússia, em Nieders-Selters, de quem tem constantemente em depósito água fresca de Selters, natural e pura como sahe da nascente.
A água de Selters é recommendada pelos primeiros médicos nas moléstias do fígado, dos rins, hemorrhoidaes e hystericas, secreções ourinárias, afecções gástricas e biliosas, escrófulas e flores brancas, tísica, asthma, febre héctica, etc., etc."[1]

O mesmo anúncio alertava os consumidores que não se deixassem enganar, pois somente a água de Selters natural, gaseificada na fonte, seria realmente eficaz:

"A respeito da diferença que existe entre os efeitos da água natural e artificial se lê na obra do célebre Dr. James “Guide pratique aux caux minérales” à pág. 245: Entre a água de Selters natural e artificial nada há de commum senão o nome, e apezar (sic) das pretensões desta última e sua voga, ella nunca passará de um agradável estimulante ao paladar, ao passo que sua rival opera como útil, digestiva, etc."[2]

Sifão, vidro e metal, século XX
A água gaseificada natural foi extraída desde o século XVIII de fontes da região de Nieders-Selters, engarrafada e comercializada por toda a Europa, sempre associada a propriedades terapêuticas. O produto se popularizou com o nome de “Água de Selters” ou “Seltz”.
Mais tarde, descobriu-se um método de produzir artificialmente esse líquido, e passou-se a poder obtê-la no ambiente doméstico, bastando para isso que se possuísse o appareil lhote, recipiente que acondicionava em câmaras separadas duas substâncias específicas (bicarbonato de sódio e ácido tartárico) que, quando misturadas no momento do consumo, produziam por reação química a gaseificação. Esse método foi muito comum até o final do século XIX. Outra forma de consumo do produto era através do sifão, uma garrafa de vidro reforçado, envolvida em malha de ferro, contendo a bebida já gaseificada em alta pressão, que podia ser liberada pelo acionamento de uma válvula na extremidade superior da peça.
Aos poucos, o líquido foi perdendo o caráter medicinal, e passou a ser consumido em conjunto com bebidas alcoólicas, hábito difundido principalmente a partir da Inglaterra.
No acervo do MCHA encontram-se itens relacionados a essas duas formas de consumo da água carbonatada, como se pode ver nas fotos. Acredita-se que estejam relacionados ao uso medicinal, uma vez que, desde a última década do século XIX até meados do seguinte, uma botica funcionou no primeiro pavimento do sobrado que abriga a instituição.



[1] Almanaque Laemmert, edição 1888, pp. 499-500. Todas as edições deste Almanaque estão disponíveis no endereço eletrônico: http://www.crl.edu/brazil
[2] Idem, p. 500.

Fotos: Sylvana Lobo

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